Hoje a
gente veio aqui contar uma história pra vocês, uma história que é feliz e
triste ao mesmo tempo, mas que é importante, porque pouca gente sabe sobre uma
doença bem séria que pode acometer os gatinhos.
A
história da gente começa em uma noite do mês de setembro, quando fomos levar
dois gatinhos adotados para a casa nova. Após deixarmos os meninos com os novos
donos, estávamos indo embora quando nos deparamos com um gatinho em uma
calçada. Sem dúvida aquele gatinho estava procurando comida, ele estava com
metade do corpo na calçada e metade na rua. Um perigo! Nós não podíamos
resgatar mais nenhum gato, a lotação do abrigo estava esgotada, com muitos
gatinhos tendo que ficar em lares temporários. Então, como a gente sempre anda
com ração no carro, decidimos parar e dar um pouco pra ele. Foi aí que a
coisa toda complicou. Ele era o gato mais magro que já tínhamos visto em toda a
nossa vida! Como deixar um gatinho assim para trás? Ficamos pensando em como
fazer pra assumir mais um, ainda mais que o Projeto estava passando por várias
mudanças, mas não teve jeito, resgatamos ele.
A
primeira noite foi no abrigo, dentro da gaiolinha na quarentena, sem contato
com nenhum outro, afinal nunca sabemos o que um resgatado pode ter né? E não
vamos arriscar a saúde dos outros meninos do abrigo. Não tínhamos como arcar
com a consulta em horário de plantão, então a solução foi essa. Na manhã do dia
seguinte, Farelo como estávamos chamando o gatinho, foi para a consulta com o
veterinário. Magro, abatido, desidratado e provavelmente cheio de doenças como
rinotraqueíte e micoplasma, mas ronronante e carinhoso como a gente nem sabia
que ele tinha forças pra ser.
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Magrelo, mas ativo e ronronante |
Os
exames foram feitos, e veio a bomba. Farelo tinha micoplasma e FIV (Vírus da
Imunodeficiência Felina), conhecida como AIDS felina. De repente ficamos sem
chão. E agora? O que fazer? Uma doença fatal e que faria com que ele tivesse
que ficar isolado de todos os outros gatos saudáveis do abrigo. Nós nunca
tínhamos tido a experiência de resgatar um gato com FIV, mas sempre soubemos
que isso ia acontecer algum dia. Farelo, foi carinhosamente apelidado de Cazuza
(em homenagem ao cantor), e a partir daí só o chamávamos assim, Cazuza.
O agora
Cazuza voltou para o abrigo. Separamos um lugarzinho só pra ele, onde não
pudesse entrar em contato com os outros. Preparamos uma caminha quentinha, água
fresca, comidinha especial e uma caixa de areia exclusiva. Com o passar dos
dias ele foi ficando mais fortinho. Driblou o micoplasma e até engordou alguns
gramas. Sempre que nos via vinha todo feliz se esfregar, ronronar e pedir
carinho. Onde quer que a gente fosse ele ia atrás. E estava comendo direitinho.
Não gostava muito de patê ou sachê, odiava os remédios, mas comia a ração seca
e adorava carne.
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Se esfregando e pedindo carinho |
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Uma piscadinha charmosa pra você |
A FIV é
bem similar ao HIV, e é espécie-específica, isto é, só
infecta gatos. Não há riscos de transmissão para humanos ou cães. Quando
infectado, o gato pode viver anos com o vírus antes que a doença se manifeste e
afete seu sistema imunológico. A maneira mais comum de um gato ser infectado é
através de mordidas, por isso os gatos positivos para o vírus devem ficar
isolados dos que não tem o vírus. Segundo diversas fontes, raramente o vírus
pode ser transmitido através de contato social (grooming mútuo) ou da mãe para os filhotes, mas transfusões de
sangue podem ser a causa de infecções.
O vírus
não sobrevive por muito tempo no ambiente e é facilmente eliminado com o uso de
desinfetantes comuns. Muitos gatos podem viver bem mesmo com o vírus por
longos períodos de tempo, e o desenvolvimento da doença é influenciado por
vários fatores diferentes, inclusive o cuidado com o gato. Dá pra saber mais
sobre a doença aqui: http://www.icatcare.org:8080/advice/cat-health/feline-immunodeficiency-virus-fiv, aqui: http://ronronar.com/como-cuidar/principais-doencas-gatos e aqui:
http://pets.webmd.com/cats/cat-fiv-feline-immunodeficiency-virus
Então
foi assim... Por um pouco mais de um mês o Cazuza ficou entre nós. Teve todo
carinho e cuidado que poderia ter. Nossos planos futuros incluíam a construção
de uma área só para gatinhos como ele (e outros infectados com FELV, mas isso é
outro post). Infelizmente hoje (29 de
outubro), nosso menino se foi. Uma das integrantes do Projeto já o encontrou
muito debilitado, com hipotermia e quase sem respirar. Foi tudo muito rápido, ontem ele passou o dia bem. O atendimento
veterinário foi imediato, mas ele não resistiu.
Estamos
todos muito tristes pela perda do nosso Cazuzinha, mas temos a certeza de que,
pelo menos no seu último mês de vida, ele foi amado e feliz. E teve quase tudo
que um gatinho poderia querer. A foto dele nunca esteve no álbum de adoção,
pois sabíamos que um gato adulto e portador de FIV seria de difícil adoção.
Além disso, ele ainda estava muito magro para podermos postar uma foto bonita.
Temos
certeza também que, se todos os seres vivos têm uma missão, a do Cazuza foi
ensinar pra gente sobre essa doença. E a partir disso tentaremos mostrar pra
todo mundo que gatinhos positivos para FIV ou FELV podem ser amados e ter um
lar, desde que sozinhos ou com outros gatinhos também portadores dos vírus.
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Apesar de tudo pelo que deve ter passado, lindo! |
Não
sabemos se o Cazuza já teve um lar antes de encontrarmos ele, mas esperamos que
tenha se sentido cuidado e muito amado por todos do Projeto Viva Gato.
Para
finalizar, queremos agradecer imensamente aos veterinários que nos ajudaram a
cuidar dele, Dr. Thiago e Dra. Fernanda, e a todas as outras pessoas que
estiveram envolvidas direta ou indiretamente com o Cazuza.
Vai em paz anjinho. Sua passagem por aqui não foi em vão.
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"Saudade É uma palavra Saudade Só existe na língua portuguesa ...Saudade do que nunca vai voltar" (Saudade - Cazuza) |
Achei o João faz um ano .. tem fiv.. está pelo e osso... nunca vi um animal tão magro ... eu o amo
ResponderExcluirAchei que tinha feito algo errado mas o cazuza parece com ele ... só está bem mais gordo... eu o alimento na mamadeira